terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sobre o Projeto

.: POSTAGEM ORIGINALMENTE PUBLICADA NO
BLOG PHOTO IN NATURA, DE DANIEL DE GRANVILLE,
EM 02 DE OUTUBRO DE 2006 :.

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Logomarca do Projeto
ARTE © Ronald Rosa, 1999


A primeira viagem que fiz cujo objetivo principal era a fotografia – ou seja, minha primeira expedição fotográfica propriamente dita – aconteceu em 1999, dentro do Projeto “Pantanal Vai à Praia”.

Durante 4 meses e meio, eu e os companheiros Tietta Pivatto e Guto Bertagnolli percorremos em bicicletas um trecho de 4.500 km do litoral entre Vitória (ES) e São Luiz (MA), levando uma exposição sobre o Pantanal com fotografias de nossa autoria, música regional e objetos típicos.

O objetivo foi promover um intercâmbio cultural entre estas duas regiões situadas em extremos opostos do Brasil. Ao mesmo tempo em que apresentávamos o material sobre o Pantanal, colhíamos registros fotográficos e textuais sobre o Nordeste, que seriam utilizados em uma segunda fase onde pretendíamos fazer o inverso: pedalar pela planície pantaneira mostrando a cultura nordestina. Infelizmente esta etapa nunca foi realizada – ou ao menos não até hoje...

Chegando em Jericoacoara (CE), 29 de julho de 1999
FOTO © Daniel De Granville, 1999


A fotografia digital ainda engatinhava por aqui, então a maioria absoluta das imagens que fizemos foi em cromo e negativo. Foram aproximadamente 3.400 fotos, sendo cerca de 250 delas com uma câmera Nikon Coolpix 100 de inacreditáveis 0,3 Megapixels (um luxo na época!), emprestada por um dos mais de 30 patrocinadores que apoiaram o Projeto.

Foram 145 dias de viagem, onde fizemos 71 exposições, 16 palestras e 15 trabalhos de educação ambiental em escolas. Participamos de 33 entrevistas para TV/rádio e saímos em 21 matérias em revistas/jornais.


Resultados

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Guto dando entrevista pra alguma emissora de TV.
Foto: © Daniel De Granville, 1999


A seguir, um resumo dos resultados que obtivemos com o Projeto.



.: Trabalhos Desenvolvidos :.

Exposição de rua (o "Varal do Pantanal") em Porto Seguro (BA),
em frente
ao "Relógio dos 500 Anos" (lembram disso?!)
Foto: © Projeto Pantanal Vai à Praia, 1999


Durante a viagem, apresentamos...
- 16 palestras;
- 71 exposições;
- 15 trabalhos de educação ambiental em escolas.

... participamos de...
- 16 entrevistas para TV;
- 17 entrevistas para rádio;
- 04 matérias em revistas;
- 17 matérias em jornais.

... e fizemos:
- 1.700 fotografias em negativo (papel);
- 1.400 fotografias em cromo (slides);
- 240 fotografias digitais.


.: Dados Técnicos :.

Êita, bicicletinha pesada...
Foto: © Tietta Pivatto, 1999


- foram 145 dias de viagem (sendo 32 dias de chuva);
- dormimos em 81 localidades (pagamos para dormir 22 vezes, o restante foi cortesia);
- pernoite mais barata = R$ 10,00 para os três com café da manhã (Canavieiras, BA);
- acampamos 06 vezes.

Dias passados em cada Estado:
- ES = 9 | BA = 34 | SE = 2 | AL = 10 | PE = 9 | PB = 6 | CE = 26 | PI = 3 | MA = 19
- Do total de 1314 refeições (3 por dia X 3 pessoas), recebemos 321 cortesias.
- O custo médio da viagem (excluindo os gastos anteriores a nossa saída) foi de R$ 7,99 por pessoa/dia.


.: Distâncias Percorridas Pelo Projeto :.

Chegando no Piauí!
Foto: © Daniel De Granville, 1999


- Total = 9254 km
- Pantanal → Ribeirão Preto: 1170 km
- Ribeirão Preto → São Paulo: 320 km
- São Paulo → Vitória: 882 km
- VITÓRIA → SÃO LUÍS: 4223 km
- Trecho efetivamente pedalado: 3200 km (64,4% em asfalto; 35,6% na terra ou praia)
- São Luís → Ribeirão Preto: 2659 km
- Percorremos aproximadamente 50 km em ciclovias (0,16% do trajeto pedalado!).
- O tempo de pedal foi de 216 horas e 23 minutos em cima das bicicletas.
- A velocidade média geral nas bikes foi de 15,61 km/h.


.: Equipamentos Que Quebraram Ou Gastaram :.

"Acho que tem que soltar esse parafusinho aqui..."
Foto: © Tietta Pivatto, 1999


- 14 furos em câmaras de ar;
- 04 pneus rasgados;
- 02 correntes partidas;
- 02 movimentos centrais estourados;
- 02 jogos de esferas para cubos das rodas foram trocados;
- 03 raios quebraram;
- 09 parafusos afrouxaram;
- 14 sapatas de freio foram substituídas;
- 01 sensor do ciclocomputador quebrou;
- 02 bagageiros dianteiros quebraram (sendo 3 vezes cada um...);
- 01 bagageiro traseiro quebrou na solda.
(*) A Ciclo Shopping (Natal) e Bike Tech (Fortaleza) deram cortesia total nas revisões.



.: Outras Curiosidades :.
Almoço "de grátis" no Bafo de Bode!
Foto: © L. A. Lemmi, 1999


- A pior subida: ladeira na estrada de terra entre Caraíva (BA) e Trancoso (BA).
- A melhor descida: estrada asfaltada da praia de Búzios, entre Barra da Tabatinga (RN) e Natal (RN) - velocidade máxima de 71,5 km/h!
- Os preços para transportar bicicletas em ônibus variavam de gratuito (Barreirinhas, MA) até o mesmo valor da passagem (Parnaíba, PI)!
- Fizemos travessias em barco ou balsa 50 vezes, totalizando 35 horas...
- Em algumas travessias de balsa ou barco, bicicleta pagava metade da taxa cobrada para um carro (além disto, o ciclista também tinha que pagar o preço de uma pessoa, ao contrário do motorista).
- Cidades onde os motoristas mais nos desrespeitaram: Fortaleza e João Pessoa.
- Fomos vítimas de 03 pequenos furtos (01 camiseta, 01 relógio de pulso e 01 corrente reserva de bike), mas em nenhum estávamos presentes ou fomos vítimas de violência.
- Nos demos meio mal várias vezes por confiar nas informações "pouco precisas" sobre distâncias, qualidade das estradas, quantidade de ladeiras por quilômetro, pontos de referência, direção a tomar nas bifurcações, presença de placas, horários de maré, densidade da areia, largura e profundidade de riachos;
- Durante a viagem, ganhamos: 35 camisetas, 22 bonés, 6 kg de papéis (folhetos promocionais, mapas, guias), 4 ferramentas de bicicleta, 53 presentes diversos (artesanatos, CDs, livros, adesivos, canetas, bottons, chaveiros, fotos, etc), 89 cocos, 1 kg de peixe seco, 700 g de tapioca e VÁRIOS passeios sensacionais (buggie, mergulhos, cavalgadas, caminhadas, trilhas de bike e outros)...


A logomarca do Projeto, pelo amigo Ronald Rosa
ARTE: © Ronald Rosa, 1999
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O Início

Janeiro de 1999: Três biólogos decidem viajar de bicicleta pelo litoral do Nordeste levando uma exposição itinerante sobre o Pantanal
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Daniel De Granville, Guto Bertagnolli e Tietta Pivatto
chegando em Jericoacoara, CE (29 de julho de 1999)


Quando se fala em ciclismo, todo mundo logo pensa naquelas competições envolvendo um monte de gente suada correndo em cima de uma bicicleta com um número grudado na camiseta. Porém, segundo o Dicionário Aurélio, ciclismo é "a arte de andar de bicicleta". Assim, chegamos à conclusão de que nós três éramos ciclistas havia muito tempo e não sabíamos.

Tudo bem, então já éramos ciclistas, mas daqueles de fim de semana, que durante sua vida toda vai pedalar uns três mil quilômetros no máximo. Daí a inventar um projeto de pedalar quase 4.500 quilômetros em quatro meses tem uma grande diferença!


O Começo De Tudo
Na primeira vez que tivemos essa idéia, nem nós acreditávamos muito que íamos levá-la a sério. Mas a coisa foi tomando forma, começamos a imaginar o que seria viajar tudo isto, e também queríamos "algo mais", pois com um pouco de pesquisa descobrimos que ir de bicicleta de Vitória a São Luís não era algo tão inédito assim... Ouvimos falar de gente que estava dando a volta na América do Sul, outros indo do Alaska à Terra do Fogo, outros ainda apenas dando a volta no planeta! Assim surgiu o Projeto "Pantanal Vai à Praia", uma maneira de agradecer ao Pantanal e os Pantaneiros por tudo que ele nos mostraram, conhecer o Nordeste e ainda conseguir quem nos patrocinasse pelo ineditismo da coisa.

Idéias prontas na cabeça, por onde começar a agir? Ainda estávamos no Pantanal - trabalhando no Refúgio Ecológico Caiman -, não tinhamos muito tempo, e o único computador e telefone à nossa disposição eram os de serviço. Assim, nos raros momentos em que não estavam sendo usados, a gente digitava o Projeto pra buscar patrocínio ou fazia os primeiros telefonemas.

E o treinamento?
Era feito nas horas vagas, ou seja, das 11 ao meio dia, debaixo daquele sol "ameno" do Pantanal em janeiro (quem conhece sabe muito bem a sensação). Pedalávamos 8 quilômetros em uma estrada cascalhada, parávamos em um corixo para um mergulho na água morna, voltávamos e chegávamos no refeitório para almoçar com nossos colegas de trabalho. Imagine a felicidade deles ao compartilharem uma mesa com três ciclistas suados... Algumas tardes sobrava um tempinho e lá íamos nós novamente, desta vez 28 quilômetros, com direito ao pôr-do-sol e bichos do Pantanal. Tudo cronometrado e anotado: velocidades máxima e média, tempo, distância percorrida. Parada pra descanso, só quando aparecia um tamanduá no mato ou quando um jacaré atravessado na estrada não dava passagem...

Assim se foi um mês, daí era hora de arrumar a mudança, despedir dos amigos do Pantanal e voltar para nossas respectivas cidades. O trabalho por lá havia terminado, e nos próximos três meses era dedicação exclusiva ao Projeto: mandar e-mails, correspondências, fazer centenas de telefonemas, montar a página na Internet, pedir patrocínio, treinar, arrumar mudança, estudar sobre a região que íamos percorrer e também sobre manutenção de bicicleta.


"É Erva Mate, Seu Guarda!"
O primeiro patrocinador que fechou com a gente - ainda no Pantanal - foi a Zaionc Agropecuária, uma fábrica de erva mate para tereré (versão pantaneira do chimarrão gaúcho, porém gelado por motivos óbvios!). Ganhamos um fardo com 30 pacotes de 500 gramas, que seriam levados na viagem para servir aos povos do litoral, e deveriam ser retirados por nós na distribuidora em Campo Grande, no dia de irmos embora. Imagine Daniel e Guto em uma Saveiro absolutamente lotada de tranqueiras (afinal, estávamos de mudança!), tendo de arrumar espaço para acomodar 15 quilos de tereré. A solução foi abrir o fardo e espalhar os pacotes da erva por todo o carro, onde tivesse um cantinho para enfiar - debaixo do banco, no porta luvas, na caçamba. É claro que o carro ficou impregnado com cheiro de erva mate, e é claro também que fomos parados por uma blitz da Polícia Rodoviária Federal à 1 hora da manhã no meio de Mato Grosso do Sul. Foi bem complicado convencer o guarda de que aquilo era erva mate, que estávamos sendo patrocinados e o tereré seria levado pelo Nordeste de bicicleta...


A Viagem
Foram três longos e trabalhosos meses, da chegada em casa no final de janeiro até a partida para Vitória no dia 5 de abril. Por definição, biólogos são extremamente idealistas e péssimos negociantes! Demorou até a gente pegar os macetes e ficar mais "cara de pau" para pedir patrocínio... Hoje podemos dizer que o mais cansativo em um projeto como este não é pedalar - definitivamente não! Nada se compara à correria para enviar as cópias do projeto às empresas, cobrar respostas, fazer cálculos, etc, etc.

Nosso roteiro foi montado com base em quatro fontes: um mapa rodoviário geral do Brasil, um guia de estradas e praias específico para o litoral, os mapas oficiais dos DERs de cada estado (nem sempre atualizados!) e um guia rodoviário em CD ROM da GFMI Software. Problemas? Em vários trechos, as informações não batiam entre as quatro fontes. Às vezes uma estrada não aparecia, ou as distâncias indicadas variavam 20 quilômetros. Pra quem está viajando de carro não é nada, mas de bicicleta...